No primeiro discurso depois de eleita, Dilma Rousseff pontuou acertada e apropriadamente diversos aspectos econômicos e sociais que vão nortear seu governo. Mas foi ainda mais feliz por duas assertivas que dizem respeito ao feito histórico de sua vitória. Primeiro, ao indicar que a eleição da primeira mulher presidente do Brasil é um mérito da democracia. Ideal pelo qual, cabe ressaltar, ela própria, Dilma, tanto lutou. Segundo, ao sugerir aos pais e mães de meninas que lhes digam “sim, a mulher pode”!
É triste ver, ainda hoje, uma parte da elite conservadora brasileira mostrando um rancor incompatível com a atitude de seu próprio bastião, derrotado nas urnas, tentando desmerecer a importância simbólica da ascensão da mulher ao poder. Por quanto seus discursos enfatizem a notória relevância da qualificação, competência e experiência para o cargo – o que a nossa futura presidente tem de sobra, razão pela qual foi escolhida candidata –, desqualificam a discussão sobre gênero e, na mesma linha, até sobre etnia, como fator de transformação política.
Trata-se de mais um daqueles equívocos, para dizer o mínimo, provocados por uma visão miope e retrógrada do desenvolvimento social e da cidadania. A ascensão das mulheres aos postos máximos de vários países é um fenômeno relativamente novo no mundo todo. E mostra um grau de simultaneidade que faz refletir. Angela Merkel, na Alemanha. Julia Gillard, na Austrália. Helen Sirleaf, na Libéria. Na Costa Rica, Laura Chinchilla. Cristina Kirchner, na Argentina. No Chile, Michelle Bachelet, que recém terminou seu mandato como uma das governantes mais populares da história do país para assumir a ONU Mulher, nova agência da Organização das Nações Unidas que promoverá a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres. Apenas para citar as contemporâneas de Dilma.
É um absurdo desqualificar a relevância da discussão sobre igualdade e gênero numa sociedade permeada, ainda, pela discriminação. Não aquela discriminação verbalizada, fácil de enquadrar. Mas o preconceito sombrio, rastejante, que se revela na discrepância de salários entre homens e mulheres que exercem a mesma função. Nas exigências empregatícias. Na já bem conhecida dupla jornada feminina, dividida entre a chefia econômica da família e as tarefas do lar.
Dilma não podia ter acertado o ponto com maior precisão. Sim, a mulher pode. E pode mais, com a habilidade que a vida e a própria discriminação social naturalmente lhe conferiu, de lidar brilhantemente com múltiplas e simultâneas urgências. Tanto quanto todas as demais esposas, mães, filhas e trabalhadoras incansáveis que conhecemos.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
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